A imprensa brasileira é hipócrita. Ontem (domingo 10/01) ouvia a Rádio Jovem Pan quando entrou na programação um editorial no qual a emissora se posicionava contra o decreto assinado pelo Presidente Lula que, entre outras medidas, abre a possibilidade de punição, até mesmo com a perda da concessão, dos veículos de comunicação que não respeitarem os direitos humanos. Foi o que bastou para que a Jovem Pan já se arvorasse a criticar o governo federal e tratasse a questão como perseguição à imprensa e ameaça à liberdade de expressão.
Ora. Vamos aos fatos:
- A comunicação no Brasil é dominada por poucas (dez no máximo) famílias que detém a propriedade dos principais veículos do País. Desde Assis Chateubriand, o País não conhece um meio de comunicação que não tenha como forma principal de financiamento a venda de publicidade. Isso faz com que a informação, longe de ser um bem público, torne-se moeda de troca para os mais espúrios interesses;
- Só tem direito à liberdade de expressão quem tem acesso aos veículos. E para ter acesso aos veículos, o cidadão precisa fazer parte da tal “elite” que domina a comunicação ou abrir espaço na base do dinheiro mesmo. Quem paga ganha espaço. Para falar qualquer coisa, inclusive, mentiras;
- A imprensa reproduz em suas páginas estereótipos e reforça preconceitos de raça, gênero, opção sexual. Ignora os conflitos entre brancos e negros; discrimina o MST e os movimentos sociais e menospreza a mulher e a luta pela igualdade de gêneros;
- O Brasil é um dos únicos países do mundo que não tem Lei de Imprensa. Jornalistas irresponsáveis falam e escrevem o que querem. Ao cidadão resta calar-se ou entrar na Justiça em busca de reparação. Os erros, propositais ou não cometidos pela imprensa, já acabaram com vidas e a Folha publicou, sem pudor, um documento falso contra a Ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. O que aconteceu com a Folha? Nada. Bom, mas o que esperar de um jornal que emprestava os seus carros para levar presos políticos à tortura?
- A imprensa não dá direito ao contraditório. Tem lado e favorece este lado ao seu bel prazer, como se o leitor, o ouvinte ou o telespectador fosse um completo idiota e não percebesse a manipulação das informações. O digníssimo apresentador do Jornal Nacional Willian Bonner comparou o telespectador brasileiro ao Simpson pai; diga-se, de passagem, um verdadeiro imbecil (ele e o personagem);
- Por fim, parte desta imprensa apoiou o golpe militar, como já citei acima em relação à Folha. Alguns jornalistas, como demonstrou bem Boris Casoy , fazem parte desta elite preconceituosa e medíocre, que tem acesso aos meios de comunicação, faz discurso politicamente correto, mas por detrás dos microfones deixa cair as suas máscaras.
Os delegados da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) aprovaram diversas propostas voltadas à garantia da democratização dos meios; de participação da sociedade na definição de conteúdo e da punição àqueles veículos que ignoram solenemente o compromisso com a sociedade, e usam as concessões para acumular poder e dinheiro.
O cerco está se fechando. E o Brasil, assim como outros países da América Latina, precisam e vão avançar na consolidação da democracia. No entanto, somente será possível consolidar a democracia, se o Estado garantir, por meio do cumprimento dos preceitos constitucionais, que a imprensa exerça na prática o respeito irrestrito ao direito das pessoas. Com ou sem áudio. Na frente ou por detrás das câmeras.
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