quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ditadura de quem?

A imprensa reage a sua própria podridão
Silmara Helena


Há algo de podre na imprensa. E ela reage violenta ao seu próprio odor. Virou lugar-comum as reclamações da imprensa sobre o cerceamento à sua liberdade. Quase que diariamente as empresas de comunicação por meio de cães de guarda posicionados em lugares estratégicos nas emissoras ou nos jornais se levantam contra setores da sociedade que, de forma legítima, questionam a forma como a mídia aborda e cobre os assuntos de interesse público.

Foi o que ocorreu na 1ª Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) realizada em Brasília. Bastava mencionar a necessidade de controle social e participação da sociedade na definição de conteúdo para que os crachás do patronato e do grupo por ele selecionado fossem levantados a fim de inviabilizar a proposta.

Foi assim quando o governo federal apresentou o Plano Nacional de Direitos Humanos no qual exigia dos veículos mais respeito aos direitos humanos.

É assim há mais de 500 anos neste País, onde o monopólio da comunicação permanecesse intocável. Onde a Justiça às cegas suspende a obrigatoriedade do diploma do jornalista. E onde a Lei de Imprensa é revogada deixando cidadãos e cidadãs à mercê de uma mídia truculenta.

Esta mesma corja que gasta dinheiro com publicidade colocando a censura atrás das grandes é aquela que apoiou o golpe militar e cresceu às barbas da ditadura, ignorando o sangue dos torturados em seus porões.

A prática hipócrita se repete na região. Aqui, no Alto Tietê, não existem fontes, existem clientes. A informação é mercadoria. Precisa ser negociada. A diferença entre o herói e o bandido está apenas na quantidade de dinheiro depositada na conta bancária dos proprietários dos veículos. Daí origina-se a relação promíscua entre mídia e poder público.

E ai de quem ousar não entrar no jogo. E ai de quem questionar.

Não, a imprensa não pode ser questionada. Ela está acima da lei. Dá a última palavra, mas o ditador é sempre quem está do outro lado.

Um movimento silencioso, mas intenso e vigoroso, começa a mudar esta história. Este tipo de imprensa - medíocre, provinciana e atrasada -está com seus dias contados. Pensa que engana as pessoas, mas fala para si e seus asseclas, seus puxa-sacos.

A imprensa que esbraveja, que se revela autoritária, dona da verdade e defensora da escória do jornalismo, na verdade, reage violenta ao seu próprio odor. Sente o cheiro da sua podridão. São sepulcros caiados.

Um comentário:

Rosenil Barros Orfão disse...

Ao ler este artigo de Silmara Helena percebi um alto grau de indignação que a meu ver não se justifica plenamente. Entendo que ela se refere e até desabafa sobre a dificuldade de uma relação eminentemente jornalistica entre emissor e receptor ao viver em seu dia a dia, enquanto profissional de comunicação, os aspecto noticiosos da imprensa.

Neste sentido sua indignação é mais que correta.

Por outro lado quero lembrar que já se foi o tempo em que os penas de aluguel posuiam o monopólio dos canais de comunicação, canais estes utilizados sem arte e sem ciência, a serviço dos produtos produzidos pelos seus donos e amigos de seus donos.

Quero lembrar a importância e a relevância dos jornais locais para o processo de democratização da comunicação. E o fato de, nesta dinâmica, termos que conviver com alguns veículos que só conseguem transitar entre a mediocridade e a arrogância, não coloca em risco este movimento de revitalização dos jornais e das imprensas locais, que a cada momento, devido ás novas tecnologias, passam a ganhar importância universal.

De qualquer modo quero me alinhar à essência e à alma deste artigo de Silmara que em poucas linhas traz denuncias importantes que fortalecem "as fumaças da boa comunicação", e os "empresariozinhos" donos de jornal devem realmente ficar com as "orelhas atrás das pulgas" , porque os tempos realmente são outros, e os dias destes modelos estão contados. Quem tiver olhos e ouvidos para ver e ouvir que o façam. Pois não perdemos por fazer e esperar....

Pesquisar este blog