terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Nao há nada melhor para conter os excessos da imprensa do que a liberdade de imprensa

Lula abre a conferência com discurso morno. Hélio Costa é vaiado
por Silmara Helena, de Brasília

A 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) começou com turbulências. E não foi nas discussões em torno do marco regulatório, das concessões públicas ou da garantia do direito à Comunicação. As turbulências ocorreram literalmente. O vôo com a delegação de São Paulo que tinha previsão de chegada às 15h em Brasília chegou às 17h. O mau tempo na capital do País obrigou o piloto a pousar o avião em Goiânia. Antes disso, a aeronave passou 40 minutos sobrevoando a cidade à espera do cessar da chuva. Não teve jeito.Há quem dissesse que ali começava o complô contra o debate público da Comunicação - o primeiro em 500 anos de história do País.

Com o atraso, parte da delegação de São Paulo não teve como se credenciar. Mas houve garantia da organização que o credenciamento será feito nesta terça, no período da manhã.

A abertura oficial do evento atrasou uma hora. Hélio Costa, ministro das Comunicações, já começou a ser vaiado no anúncio de seu nome pelo cerimonial. Quase não conseguiu discursar. Além das vaias do público, que lotava o auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, um coro gritava no momento de sua fala: “Hélio Costa, que papelão, o empresário é seu patrão”. Ele encerrou o discurso. Foi constrangedor para um ministro. Mas a reação dos delegados deixou claro que as pessoas sabiam quem havia trabalhado pela Confecom e quem tentou boicotá-la.

O presidente Lula discursou. E não empolgou. Fala burocrática, de pouco conteúdo político. Discurso preparado e lido. O foco de sua fala foi a possibilidade de “multiplicação” dos meios de comunicação com o avanço da digitalização e da convergência da mídia. Um dos poucos momentos mais, vamos dizer, críticos, lamentou a ausência dos veículos de comunicação -leia-se TV Globo, principalmente - que, segundo Lula, “perderam a oportunidade para lançar pontes e derrubar muros. Mas todo mundo sabe onde o calo aperta”, ponderou.

Afirmou ainda que no País há uma ampla liberdade de imprensa. “A imprensa apura o que quer, publica o que quer e alguns extrapolam. Publicam inverdades e calúnias. No entanto, não há nada melhor para os excessos da liberdade de imprensa do que a própria liberdade de imprensa. Acredito que o leitor, o ouvinte, o telespectador são perfeitamente capazes de separar o joio do trigo, a verdade da campanha”, disse o presidente.

Nada disso, porém, tira da Confecom aquilo que lhe é de direito: um momento histórico, resultado da luta dos movimentos sociais pela democratização da informação no País e um espaço privilegiado de busca por uma comunicação mais democrática, transparente e igualitária.

Como disse Rosane Bertotti, Secretária Nacional de Comunicação da Central Unica dos Trabalhadores (CUT), a Confecom é só o começo. E Celso Schröder, coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) foi preciso ao definir os objetivos da Conferência: "romper com o silêncio que a mídia trata a própria mídia; tirar o véu da auto-regulamentação e propor políticas de comunicação ao governo." Para Schöder, a Confecom também terá de definir a data da próxima Conferência, considerando as forças que trabalham contra a organização do processo.

Luiza Erundina, deputada federal e crítica ferrenha do sistema de comunicação brasileiro, não falou. Nem precisou. Foi apenas anunciada. E ainda sim  a mais aplaudida.

Hoje (15/12) haverá debate em torno do Regimento, ainda não aprovado. O dia promete mais turbulências.

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